Institut Pasteur de São Paulo

Conheça o artista plástico brasileiro autista que entregou um quadro ao presidente da França

Conheça o artista plástico brasileiro autista que entregou um quadro ao presidente da França


 

Nicolas Brito Sales também é escritor, fotógrafo, assistente terapêutico e palestrante. Ele encontrou o presidente Emmanuel Macron em março, na inauguração do Institut Pasteur de São Paulo.

Escritor, fotógrafo, assistente terapêutico, palestrante e artista plástico. Essas são as cinco profissões de Nicolas Brito Sales, jovem de 25 anos diagnosticado com autismo que entregou uma de suas obras ao presidente da França, Emmanuel Macron, na cerimônia de inauguração do Institut Pasteur de São Paulo, em março.

Intitulada Le Brésil et la France se Mélangent (o Brasil e a França se mesclam, em português), a obra é uma pintura abstrata que simboliza, a partir das cores das bandeiras, a união entre as duas nações. Tem como referência objetos giratórios, e foi ‘impressa’ em metacrilato, técnica de fixação da imagem em acrílico.

Ao receber o presente, Macron manifestou publicamente no evento o desejo de que a obra fosse instalada no seu próprio escritório em Paris e que Nicolas participasse em Paris da sessão cruzada “Ano do Brasil na França”, em 2025. Trata-se de uma iniciativa governamental dos dois países, com o objetivo de aprofundar as relações bilaterais no âmbito cultural, acadêmico e econômico.

Nicolas conta que desenvolveu seu olhar artístico a partir da fotografia, atividade que ele começou a praticar em 2016, estimulado pela mãe. “Foi ela quem me apresentou a fotografia e me colocou para fazer cursos. Como eu tenho um déficit de atenção pronunciado, ela me ajudou muito. Ela aprendeu a mexer nos programas de edição de imagem e nas máquinas, só para me ensinar”, detalha. “Na pintura, não tive tanta dificuldade, porque pintar sempre foi muito divertido para mim”, complementa.

A obra dada a Macron, segundo Nicolas, com objetos giratórios, remete à sua infância. Desde pequeno sou fascinado por objetos assim, como ventiladores e máquinas de lavar.”

Pesquisa em autismo – Nicolas foi diagnosticado, ainda criança, com autismo grau 3, considerado severo. Hoje, seu quadro é de autismo é moderado (grau 2). “Esses graus fazem referência ao nível de apoio que o autista necessita para realizar atividades do cotidiano. Na psiquiatria,

entende-se como autista pessoas que apresentam déficit de comunicação verbal ou não verbal, de socialização e de comportamento”, explica Patricia Beltrão Braga, pesquisadora principal do Institut Pasteur de São Paulo.

No instituto, Braga coordena o grupo de pesquisa em Modelagem de Doenças do Sistema Nervoso. A mãe de Nicolas, Anita Brito, atua como pós-doutoranda em seu grupo. Eles investigam in vitro e em modelos que mimetizam o cérebro humano os mecanismos do sistema nervoso responsáveis pelo surgimento da condição e de seus comportamentos característicos – fatores genéticos, ambientais e doenças, por exemplo.

O grupo já identificou que os autistas têm uma neuroinflamação no cérebro, provavelmente gerada nos astrócitos, que são células que dão sustentação aos neurônios. E que algumas doenças, como a causada pelo zika vírus, podem favorecer o desenvolvimento do espectro autista. Ainda não existe um fármaco comprovadamente eficaz para tratar o autismo.

História de superação – Nicolas se destaca pela superação dos limites impostos pelo autismo. “Na infância, ele tinha bastante dificuldade de aprendizado, de comunicação, uma seletividade alimentar grande, além de estereotipias [movimentos repetidos e frequentes]. Hoje fica nítido o quanto ele evoluiu e a cada dia ele evolui mais — desde que o conheci, há cerca de oito anos. É uma evolução surpreendente, que não é muito comum”, afirma Braga.

Segundo ela, essa superação foi movida pelas atividades artísticas e, principalmente, pelo estímulo dos pais. “O que ele faz, desde pequeno é a terapia cognitivo comportamental, considerada um padrão-ouro de abordagem. Para que ela funcione, é preciso o estímulo contínuo e frequente por parte dos pais.”

“O que ele conquistou é fruto do esforço dele. Tem pessoas que acham que ele nasceu pintando e fotografando ou, pelo fato dele ser autista, acham que ele desenvolve algumas habilidades com mais facilidade. Mas é preciso deixar claro que essa ideia do ‘autista gênio’ não passa de um mito”, destaca sua mãe.

A experiência de sua trajetória tem ajudado muitas pessoas. Nicolas viaja o país dando palestras sobre sua história. Em 2017, também lançou, em conjunto com sua mãe, o livro Tudo o que eu posso ser, que detalha sua forma particular de ver o mundo. Hoje também trabalha como assistente terapêutico em uma clínica que atende jovens e crianças com autismo.

“Nicolas é uma pessoa que inspira a todos nós. Pedimos que ele criasse uma obra para o presidente Macron que representasse essa superação e os nossos esforços na pesquisa para melhor apreciar as causas do autismo”, finaliza Paola Minoprio, diretora executiva do Institut Pasteur de São Paulo.